quinta-feira, 13 de junho de 2013

VIVER SEM GLÚTEN...

VIVER SEM GLÚTEN

É erroneamente considerada como uma alergia. Pode surgir subtilmente, sem manifestação de sintomas. Hoje existem novas abordagens para um diagnóstico precoce.
Comecemos imediatamente com uma boa notícia: não existe razão para se assustar por ler ou por ouvir dizer que a dieta de um doente celíaco, caracterizada pela eliminação total de alimentos contendo glúten, deve prolongar-se por tempo indeterminado e deve ser, necessariamente, rígida. Podem encontrar-se mil satisfações à mesa e desfrutar de ótimos alimentos mesmo devendo evitar todos aqueles que contêm glúten.
Indubitavelmente, para quem descobriu que pode sofrer da doença celíaca, não será simples modificar os seus hábitos pessoais no início. No entanto, aos poucos, tornar-se-á normal inserir nas refeições quotidianas uma variedade de alimentos, talvez desconhecidos a princípio, como o amaranto, a quinoa, a mandioca, o sorgo e o trigo-sarraceno, e aumentar o consumo daqueles utilizados com menor frequência, como o milho, o milhete (painço) e o arroz.
Ainda existe a possibilidade de desfrutar da rica alternativa constituída por alimentos “sem glúten” (massa, pão, biscoitos, crackers, farinhas, etc.) preparados e comercializados de propósito para quem sofre da doença celíaca e que são sempre melhorados, quer do ponto de vista do gosto como da consistência.

Melhor Diagnóstico
A epidemiologia da doença celíaca definiu-se com maior precisão nos últimos decénios graças à rápida evolução das técnicas de diagnóstico; de facto, no passado, as dificuldades de diagnóstico eram a razão de uma deficiente avaliação da incidência efetiva da doença.
Por exemplo, em Inglaterra, nos anos 1950, acreditava-se que a doença celíaca afetasse só um indivíduo em cada 8000, mas nos anos sessenta pode afirmar-se que um inglês em cada 500 era celíaco.
As triagens sorológicas e a histologia intestinal realizadas nos últimos dez anos revelaram que um europeu em cada 70-100 está afetado por esta patologia.
A doença celíaca é uma enteropatia crónica com base imunitária que afeta o intestino delgado e que é desencadeada, nas pessoas predispostas, pela ingestão de alimentos contendo glúten.

Não é Uma Alergia
A doença celíaca não pode ser definida tecnicamente como uma alergia; de facto, ao contrário das alergias, este tipo de doença não é mediada pelos anticorpos conhecidos como “imunoglobulina da classe E (IgE)”, mas por células especiais responsáveis pela defesa do nosso organismo, os linfócitos T. Estas células atacam, ao mesmo tempo, o glúten e as paredes do intestino das pessoas com doença celíaca. Somente num segundo tempo se assiste à produção de imunoglobulinas da classe A e G, que também poderão ser úteis no diagnóstico.
Outros definem-na como uma “intolerância alimentar”, mas o facto de que seja mediada pelo sistema imunitário faz que não estejam todos de acordo com esta escolha.

Onde Se Localiza
O glúten é uma substância constituída (igualmente) por um grupo de proteínas conhecidas por gliadinas, contidas no trigo e noutras gramíneas (centeio, cevada, aveia, farro, espelta, kamut, trítico, monococo).
Apesar de a aveia conter glúten, o seu papel no surgimento da doença já foi muito debatido. Dados científicos recentes aconselham a sua exclusão da alimentação dos doentes celíacos.
A doença celíaca ataca com maior frequência o sexo feminino e é considerada típica da idade pediátrica, pode no entanto surgir mais ou menos intensamente num qualquer período da vida, frequentemente após um evento stressante, como uma gravidez ou uma intervenção cirúrgica, ou uma infeção intestinal. Nos adultos, a idade média de início é entre os 30 e os 40 anos. Esta tende a manifestar-se com maior frequência no seio da mesma família, demonstrando que existem fatores genéticos de predisposição subjacentes, mesmo que os genes responsáveis da doença ainda não tenham sido totalmente identificados.

Presença Invisível
A sintomatologia pela qual esta doença se pode manifestar é muito variável, mas geralmente o início típico inclui: diarreia, meteorismo, perda de peso e fraqueza. Também se pode verificar a associação entre a doença celíaca e a dermatite herpetiforme, a diabetes insulinodependente e a deficiência das imunoglobulinas de classe A.
Por vezes, a doença celíaca não se apresenta com a sintomatologia clássica que descrevemos, mas com sintomas específicos ou podem, mesmo, existir formas que evoluirão de maneira silenciosa sem nenhum sintoma percetível.
Se num determinado momento, para o diagnóstico eram tidos em conta, principalmente, os sintomas como a diarreia e a perda de peso, atualmente são avaliados e valorizados como indicadores da doença até os aspetos extraintestinais, como a anemia (não justificada por outras causas), a dermatite herpetiforme e o hipocratismo digital (engrossamento das falanges dos dedos, ndr) conhecido também como “dedos em baqueta de tambor”.
Na infância, o atraso no crescimento e a hipoplasia do esmalte dentário (falhas na formação de algumas partes do esmalte, ndr) são considerados sinais particularmente significativos.
Além da anemia “clássica”, os doentes celíacos também podem apresentar alterações da coagulação e carências de vitaminas e de oligominerais.
Face à suspeita da presença desta doença, o primeiro passo para sugerir um diagnóstico é realizar testes sorológicos com uma amostra sanguínea.
Os anticorpos que, frequentemente, mais se procuram na amostra recolhida, são os antiendomísio, antitransglutaminase e antigliadina; se estes não forem detetados, a suspeita de doença celíaca diminui.
Quando, pelo contrário, é encontrada a presença destes anticorpos, a suspeita inicial reforça-se e, para fazer um diagnóstico certo da doença, deve submeter-se a uma biópsia intestinal.
Com a biópsia (que se realiza através da cavidade oral, prosseguindo pelo esófago e depois pelo estômago até à zona do intestino em questão), recolhe-se uma pequeníssima porção da mucosa que reveste o tubo digestivo, que será analisada; somente depois se poderá afirmar com certeza se uma pessoa sofre da doença celíaca ou não.
No caso de uma biópsia positiva, será necessário começar uma dieta de exclusão. Privada de glúten e, como conclusão do diagnóstico inicial, uma nova biópsia deverá ser repetida depois de cerca de 8-10 meses para verificar se as condições da parede intestinal melhoraram graças à variação da alimentação.

O Remédio
A única terapia atualmente disponível para os indivíduos afetados pela doença celíaca é a total e permanente exclusão, da dieta, dos alimentos que contêm glúten. Este tratamento não só permite o desaparecimento dos sintomas e das doenças associadas à doença celíaca em curto espaço de tempo (normalmente a cura clínica dá-se no final de 1-2 meses desde o momento da exclusão do glúten), mas previne o desenvolvimento das complicações neoplásicas e autoimunes que a contínua e prolongada exposição ao glúten provoca nos sujeitos celíacos. Se não for adequadamente tratada, a doença celíaca predispõe a uma série de complicações, por exemplo, a osteoporose e tumores, particularmente, o linfoma não-Hodgkin do intestino.
Felizmente, em casos raros, nos quais a dieta de exclusão de glúten não seja suficiente, pode acrescentar-se a utilização de fármacos, como os esteroides, que ajudam no processo de desinflamação. Em alguns casos foram assinalados melhoramentos, associando à dieta imunossupressores como a azatioprina e a ciclosporina.

Um Infinitésimo É Suficiente
Os alimentos podem conter glúten em quantidades significativas no caso de ser um dos ingredientes principais (como na massa ou no pão) ou somente alguns vestígios como contaminante (é o caso do gelado, rebuçados ou alimentos pré-confecionados). Mas o consumo de vestígios de glúten também pode ser perigoso no caso da doença celíaca? Sim, a ingestão de glúten tem repercussões na saúde do doente celíaco a partir da concentração infinitesimal de 20 partes por milhão (ppm); por isso a indicação terapêutica principal é a manutenção de uma dieta restritiva e o mais atenta possível. Esta precaução seria seguida como regra de vida: o dano intestinal pode evitar-se somente com a abstenção do consumo de alimentos que contêm ainda que seja só vestígios de glúten.
Finalmente, considera-se um alimento “sem glúten” quando contém menos de 20ppm de glúten.

Filippo Brocadello
Médico, especialista em Ciência Alimentar
Fonte:www.saudelar.com

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